terça-feira, 20 de novembro de 2012

Algumas bobagens culturais...


Quero dedicar esse post para algumas bobagens culturais comuns do nosso dia-a-dia.




Uma apresentação de 5 minutos não significa que a obra apresentada seja minimalista. Aliás, umas das características do minimalismo, principalmente na música, é a repetição de um grupo de notas por bastante tempo, criando uma atmosfera quase hipnótica.

Segundo o que lemos, todas as músicas tocadas nas rádios seriam minimalistas.

Outro dia recebi um e-mail de um cara se apresentando como o novo Leonardo da Vinci. Escrevi um livro, sou escritor! Gravei um cd, sou músico. Participei da peça de teatro tal, sou ator! Fiz trilha sonora para uma peça tal, sou compositor! Cantei uma música, sou cantor! Dirigi uma peça de teatro, sou diretor!

Gostaria de lembrá-lo que o Tiririca tem 3 cd’s gravados, então pela sua lógica ele seria um músico, e também compositor. Sabemos que o primeiro cd foi um devaneio coletivo momentâneo, imposto por empresários que pagam rádios para tocarem determinada música (Jabá) em sintonia com o que as grandes emissoras de televisão apresentam nos seus programas dominicais.

Só que as consequências foram maiores: virou ator, humorista, apresentador de programa, e para piorar foi eleito deputado federal. Tentou até levar o filho para o mesmo caminho. Felizmente não emplacou. Ainda...

Processo semelhante acontece com as ex-BBB’s. Entram como “anônimas” e depois saem da casa como modelos, atrizes, apresentadoras, repórteres etc.

Seguindo a lógica, o seu Creysson, aquele do Casseta & Planeta, tem um livro publicado, então ele também é um escritor.

Uma vez teve um cara que leu o Código do Consumidor e desejou fazer justiça. Ganhou um espaço num programa policial meia boca e se empolgou. Estudou Direito. Foi eleito Deputado Federal.

Criou até um “Plantão Jurídico” (espécie de tele-advogado) 0900-112222, mas nunca passou no exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Claro, foi processado por exercício ilegal da advocacia. Até para governador do estado de São Paulo já concorreu. Não é que o cara queria ser prefeito de São Paulo?

Ouço e às vezes leio as frases ou palavras de efeito, algo do tipo: gestão do conhecimento (que conhecimento? científico, político ou cultural?), sustentabilidade (que tá na moda), projeto de vida (que inicia quando o cara já sabe o dia em que vai morrer), resgate cultural, preservação cultural, mapeamento cultural.

Esses dias li um santinho de um candidato que dizia: quero ser vereador porque gosto de ajudar as pessoas. Num Facebook leio que outro quer ser vereador porque almeja novos desafios. Outro porque é jovem.

Quer um novo desafio? Vai quebrar pedra em Marte!

O mais interessante foi ler um comentário de uma carta aberta para a comunidade, escrita pela necessidade de explicar uma piada mal entendida. O comentário: Dizem por aí que a insanidade é contagiante!

O que me preocupa são os imbecis motivados. Gente que esquenta arroz em casa e já pensa em abrir um restaurante. Gente que elogia algo sem ter o mínimo conhecimento do que está elogiando. Esse tipo de elogio pode trazer consequências desastrosas no futuro, quando o elogiado desejar se tornar um profissional.

É comum no nosso trânsito encontrar pessoas que compram um Chevette, colam um adesivo “Turbo” no para-brisa e pensam que serão o novo Ayrton Senna. Sem esquecer os toca-fitas RollStar no volume máximo.

Jogadores de Playstation que terminam o Need for Speed e se acham com moral para ridicularizar o Rubinho Barrichello.

Na música é comum o cara forrar a garagem de casa com caixa de ovo e achar que aquilo é um isolamento acústico. Quando na verdade é uma incubadora de aranhas e baratas. Depois vem com aquele papo de estúdio caseiro.

Mas num país onde ser jornalista não necessita de graduação, e que apenas o talento basta, o elogio é tudo. Dá Ibope! Como se estudo e treino fossem para os fracos. Essas aberrações sobrevivem e o pior, procriam. Ah, e também votam.

Num domingo à noite vi que um auxiliar de cozinha, ou motoboy, que mora com a família numa casa própria já é considerado como sendo de classe média. Partindo desse princípio Jaraguá do Sul é o Dubai do Brasil.

Com tudo o que foi exposto nessa postagem posso deduzir que sou: filósofo, blogueiro, escritor, crítico musical, produtor musical, palestrante, humorista, político e jornalista.
Podem ficar tranqüilos, sei também do meu potencial como fisiculturista, modelo, lutador e comentarista de UFC, enxadrista, técnico, jogador e torcedor de futebol.

Tenho também um perfil para vendas no Mercado Livre, então eu posso pensar que sou um comerciante ou empresário.

Só não posso ser professor de música porque o meu diploma é de bacharel em música.

Há uma linha muito tênue entre “hobby” e “doença mental” (Luís Fernando Veríssimo).

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