Uma partita de Bach tocada na praça de
alimentação do Shopping Center Breithaupt vai fazer com que uma pessoa pare de
comer para ouvir um violino? Pode ser que ela ao chegar em casa coloque para
baixar todas as obras que encontrar disponível na internet, mas certamente não
vai comprar nenhum cd.
Muito interessante são
os dados apresentados por William Fischer
em seu livro Promises to keep. O
autor informa que, de acordo com estudo realizado em 1999, verificou-se que,
entre 8 mil músicas baixadas na internet:
- cerca de 15% foram
ouvidas apenas uma vez;
- cerca de 50% não
foram ouvidas nem mesmo uma vez inteira;
- cerca de 10% jamais
foram ouvidas;
- menos de 10% foram
ouvidas mais de quatro vezes.
Provavelmente ela vai
conversar mais alto com o colega de mesa, ou continue comendo naturalmente.
Volta e meia aparecem
e-mails ou compartilhamentos no Facebook a respeito do que aconteceu com o
violinista Joshua Bel tocando num metrô de Washington DC.
Três minutos passaram quando um homem de meia idade notou que o músico estava a tocar, abrandou o passo e parou por alguns segundos, mas continuou depois o seu percurso para não chegar atrasado.
Um minuto depois, o violinista recebeu o seu primeiro dólar, uma senhora atirou o dinheiro sem sequer parar e continuou o seu caminho.
Mais alguns minutos, alguém se encostou à parede para ouvir, mas olhando para o relógio retomou a marcha. Estava claramente atrasado para o trabalho.
Quem prestou mais atenção foi um menino de 3 anos. A mãe trazia-o pela mão, apressada, mas a criança parou para olhar para o violinista. Finalmente, a mãe puxou-o com mais força e o miúdo continuou a andar, virando a cabeça várias vezes para ver o violinista.
Esta ação foi repetida por várias outras crianças. Todos os pais, sem exceção, obrigaram as crianças a prosseguir.
Nos 45 minutos em que o músico tocou, somente 6 pessoas pararam por algum tempo. Cerca de 20 deram-lhe dinheiro mas continuaram no seu passo normal. Ele recebeu cerca de 32 dólares. Quando ele parou de tocar e o silêncio tomou conta do lugar, ninguém se deu conta. Ninguém aplaudiu, nem houve qualquer tipo de reconhecimento.
Ninguém sabia que este violinista era Joshua Bell, um dos mais talentosos músicos do mundo. Ele tocou algumas das peças mais elaboradas alguma vez escritas num violino de 3,5 milhões de dólares.
Dois dias antes de tocar no metrô, Joshua Bell esgotou um teatro em Boston, onde cada lugar custou em média 100 dólares.
Esta é uma história real, Joshua Bell tocou incógnito na estação de metrô num evento organizado pelo Washington Post que fazia parte de uma experiência social sobre percepção, gostos e prioridades.
O outline era: num lugar comum, numa hora inapropriada: Somos capazes de perceber a beleza? Paramos para apreciá-la? Reconhecemos o talento num contexto inesperado?
Uma das possíveis conclusões que se podem sacar desta experiência podem ser: Se não temos um momento para parar e escutar a um dos melhores músicos do mundo tocar algumas das músicas mais bem escritas de sempre, quantas outras coisas estaremos perdendo?
Voltando ao FEMUSC...
Praça de alimentação é
lugar para comer, e dificilmente alguém vai mudar isso. Muito menos um músico.
E ainda pensar que o músico pagou 400 reais para fazer música de fundo durante
o almoço.
Não é a toa que
diariamente músicos recebem convites para tocar em qualquer lugar em troca de
um prato de comida ou da oportunidade de “divulgar” o seu trabalho.
Esses tipos de ações
fazem com que eu tenha que discutir valor de cachê com vendedor de material de
construção, porque na visão dele é estranho alguém cobrar para tocar quando tem
gente pagando para tocar.
Outro jornal apresentou
uma matéria interessante, onde um participante diz que tinha de se virar
sozinho para ler a partitura para tocar no FEMUSC. A matéria também diz que
esse mesmo participante estava matriculado no nível intermediário.
Ler música para um
festival desse nível é elementar!
Já imaginou eu
participar de um Fórum de Direito Civil e aprender a ler no primeiro dia do
Fórum? Ultimamente eu estou usando essas comparações, a princípio toscas, mas
que tem como objetivo mostrar que músico é uma profissão, para que os
aspirantes a músico não se iludam com a ideia de que apenas o talento basta.
Música é 1% inspiração
e 99% transpiração!
Até parece que todo
mundo nasce sabendo a sua hora de tocar na Sagração da Primavera de Stravinsky.
Jaraguá do Sul ainda
não tem um corpo musical estável. Temos projetos e projetos tem começo e fim.
Eles são elaborados para durarem um determinado período. Não existe projeto
infinito. E no final tem de prestar contas!
Um projeto milionário
passou pela cidade para criação de uma orquestra sinfônica, mas começando do
zero, porque aparentemente, os músicos de Jaraguá não teriam condições de
participar da mesma. Nada daqui, segundo esse projeto, poderia ser aproveitado
ou investido.
Projetos culturais diferem dos projetos em
geral por envolverem insumos de alta qualidade, difíceis de gerir, e por terem
retorno financeiro imprevisível,
reduzido ou mesmo inexistente (Hermano Roberto
Thiry-Cherques).
Sinto-me envergonhado
quando converso com colegas músicos de outros estados e países na hora de
explicar como Jaraguá do Sul tem um festival de música de 2,4 milhões de reais
e não tem uma orquestra. Nem Joinville tem. Blumenau tem uma de câmara.
Santa Catarina tem
orquestra sinfônica? A última notícia que eu tive da mesma é que eles tinham
sido despejados do local de ensaio por falta de pagamento do aluguel. Agora tem
uma Orquestra Sinfônica de Florianópolis.
Há muitos projetos e
não custa lembrar que ano passado, que foi ano eleitoral, simplesmente não saiu
nenhum edital por parte do governo do estado. Nem Elisabete Anderle, nem
SEITEC.
Sobraram
aproximadamente 10 milhões de reais por conta desses editais não realizados. Onde
parou essa grana?
Parece que os projetos
de grande porte só serão desenvolvidos via Lei Rouanet, porque se depender do
Estado só haverá editais de cultura em ano sem eleição. Já estão até reformando
ponte com projeto via Lei Rouanet.
Esse festival tá
criando a cultura do aprenda música em duas semanas, do seja músico nas férias,
do aproveite concertos sinfônicos grátis porque o próximo pode ser só ano que
vem!
Não é dessa maneira que
se forma público para a música erudita.
Mais uma comparação
tosca. Ano passado no primeiro jogo do Juventus na série B do Catarinense não
havia mil pessoas no estádio. Teve mais foguetes do que pessoas. Já nesse ano,
no primeiro jogo do time na série A compareceram mais de 3 mil pessoas e não
teve um foguete sequer. Só um rojão jogado pela torcida do Metropolitano na
torcida do Juventus.
Teve até briga entre as
torcidas. Querendo ou não apenas alguns meses de campeonato foram suficientes
para quase lotar um estádio já no primeiro jogo do ano.
Enfim, para mim o
FEMUSC virou um luxo desnecessário. É tipo os concertos do André Rieu, é mais
visual do que musical.
Para o pessoal que
pensa num tema para dissertação de mestrado, ou tese de doutorado, seria
interessante um estudo do público de música erudita em Jaraguá do Sul após o
primeiro FEMUSC. Aumentou? Diminuiu?
Quando o Festival
completar 10 anos vamos fazer a pergunta: Dez anos de FEMUSC em Jaraguá do Sul,
qual a sua influência na música e no público local?
Como sou músico da
Orquestra Filarmônica de Jaraguá do Sul, na qualidade de membro fundador, duma
época que o Teatro da SCAR não tinha poltrona e possuía uma acústica horrível,
afirmo que o público da orquestra se manteve fiel e os encerramentos (Auto de
Natal) sempre lotaram.
Não senti nenhuma
influência do FEMUSC sobre o público da Filarmônica e muito menos sobre os
habitantes de Jaraguá do Sul. É tipo o carnaval.
Teve um ex-presidente
de Fundação Cultural que disse que iria tornar o carnaval de Jaraguá do Sul
referência no estado? 4 anos depois houve alguma evolução no nosso carnaval? Só
se nos gastos.
Tem um boneco
apodrecendo ao ar livre lá no parque de eventos. O outro foi queimado. 30 mil
reais jogados fora e mais outros milhares de reais para manutenção.
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