Quero dedicar esse post
para algumas bobagens culturais comuns do nosso dia-a-dia.
Uma apresentação de 5
minutos não significa que a obra apresentada seja minimalista. Aliás, umas das
características do minimalismo, principalmente na música, é a repetição de um
grupo de notas por bastante tempo, criando uma atmosfera quase hipnótica.
Segundo o que lemos,
todas as músicas tocadas nas rádios seriam minimalistas.
Outro dia recebi um
e-mail de um cara se apresentando como o novo Leonardo da Vinci. Escrevi um
livro, sou escritor! Gravei um cd, sou músico. Participei da peça de teatro
tal, sou ator! Fiz trilha sonora para uma peça tal, sou compositor! Cantei uma
música, sou cantor! Dirigi uma peça de teatro, sou diretor!
Gostaria de lembrá-lo
que o Tiririca tem 3 cd’s gravados, então pela sua lógica ele seria um músico,
e também compositor. Sabemos que o primeiro cd foi um devaneio coletivo
momentâneo, imposto por empresários que pagam rádios para tocarem determinada
música (Jabá) em sintonia com o que as grandes emissoras de televisão
apresentam nos seus programas dominicais.
Só que as consequências
foram maiores: virou ator, humorista, apresentador de programa, e para piorar
foi eleito deputado federal. Tentou até levar o filho para o mesmo caminho. Felizmente
não emplacou. Ainda...
Processo semelhante
acontece com as ex-BBB’s. Entram como “anônimas” e depois saem da casa como
modelos, atrizes, apresentadoras, repórteres etc.
Seguindo a lógica, o
seu Creysson, aquele do Casseta & Planeta, tem um livro publicado, então
ele também é um escritor.
Uma vez teve um cara
que leu o Código do Consumidor e desejou fazer justiça. Ganhou um espaço num
programa policial meia boca e se empolgou. Estudou Direito. Foi eleito Deputado
Federal.
Criou até um “Plantão
Jurídico” (espécie de tele-advogado) 0900-112222, mas nunca passou no exame da
Ordem dos Advogados do Brasil. Claro, foi processado por exercício ilegal da
advocacia. Até para governador do estado de São Paulo já concorreu. Não é que o cara queria ser prefeito de São Paulo?
Ouço e às vezes leio as
frases ou palavras de efeito, algo do tipo: gestão do conhecimento (que
conhecimento? científico, político ou cultural?), sustentabilidade (que tá na
moda), projeto de vida (que inicia quando o cara já sabe o dia em que vai
morrer), resgate cultural, preservação cultural, mapeamento cultural.
Esses dias li um
santinho de um candidato que dizia: quero ser vereador porque gosto de ajudar
as pessoas. Num Facebook leio que outro quer ser vereador porque almeja novos
desafios. Outro porque é jovem.
Quer um novo desafio?
Vai quebrar pedra em Marte!
O mais interessante foi
ler um comentário de uma carta aberta para a comunidade, escrita pela
necessidade de explicar uma piada mal entendida. O comentário: Dizem por aí que
a insanidade é contagiante!
O que me preocupa são
os imbecis motivados. Gente que esquenta arroz em casa e já pensa em abrir um
restaurante. Gente que elogia algo sem ter o mínimo conhecimento do que está
elogiando. Esse tipo de elogio pode trazer consequências desastrosas no futuro,
quando o elogiado desejar se tornar um profissional.
É comum no nosso
trânsito encontrar pessoas que compram um Chevette, colam um adesivo “Turbo” no
para-brisa e pensam que serão o novo Ayrton Senna. Sem esquecer os toca-fitas
RollStar no volume máximo.
Jogadores de
Playstation que terminam o Need for Speed e se acham com moral para
ridicularizar o Rubinho Barrichello.
Na música é comum o
cara forrar a garagem de casa com caixa de ovo e achar que aquilo é um
isolamento acústico. Quando na verdade é uma incubadora de aranhas e baratas.
Depois vem com aquele papo de estúdio caseiro.
Mas num país onde ser
jornalista não necessita de graduação, e que apenas o talento basta, o elogio é
tudo. Dá Ibope! Como se estudo e treino fossem para os fracos. Essas aberrações
sobrevivem e o pior, procriam. Ah, e também votam.
Num domingo à noite vi
que um auxiliar de cozinha, ou motoboy, que mora com a família numa casa
própria já é considerado como sendo de classe média. Partindo desse princípio
Jaraguá do Sul é o Dubai do Brasil.
Com tudo o que foi
exposto nessa postagem posso deduzir que sou: filósofo, blogueiro, escritor, crítico
musical, produtor musical, palestrante, humorista, político e jornalista.
Podem ficar tranqüilos,
sei também do meu potencial como fisiculturista, modelo, lutador e comentarista
de UFC, enxadrista, técnico, jogador e torcedor de futebol.
Tenho também um perfil
para vendas no Mercado Livre, então eu posso pensar que sou um comerciante ou
empresário.
Só não posso ser
professor de música porque o meu diploma é de bacharel em música.
Há uma linha muito
tênue entre “hobby” e “doença mental” (Luís Fernando Veríssimo).