segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A “votocracia”.


Sempre em ano de eleições é imposta a ideia que o ato de votar é o exercício pleno da democracia e da cidadania.

Ser obrigado a votar é democrático? Se eu deixar de votar não sou mais cidadão?

O voto sempre foi uma maneira de perpetuar um grupo de pessoas, escondidas sob a alcunha de partido político, para usufruírem das benesses do poder durante um determinado período de tempo.

Nesse período de tempo ampliam a rede de contatos oportunistas e a regra da troca de favores. Tanto que dificilmente encontramos ex-prefeitos, ex-deputados ou ex-senadores pobres ou com algum filho desempregado.

O último ex-presidente está pensando em comprar o SBT...

Que democracia é essa que ignora o voto em branco e nulo? Quer dizer então que o meu voto só é válido se eu votar em algum candidato? A única maneira de protestar é elegendo pessoas analfabetas, na maioria dos casos analfabetos funcionais, que serão durante todo o mandato manipulados por assessores e cupinchas do partido do qual se filiaram?

Se houver 30 ou 40% de votos nulos no processo eleitoral para o governo e o TSE isso não representa nada? Vão pensar que os eleitores não sabiam os números dos candidatos ou não sabiam utilizar a urna eletrônica?

Em verdade eles não estão nem aí. A lei eleitoral garante que qualquer candidato com maioria de votos ou com apenas um voto, dependendo da quantidade de eleitores, seja eleito. Portanto, sempre vai haver compra de voto, pois se 95% da população anular o voto vai ter candidato se elegendo com uma dúzia de votos.

Algo bem democrático.

Ah... mas anular o voto não contribui em nada, só prejudica. Tudo bem, aceito esse tipo de argumento, só que quem vota em candidato corrupto ou incompetente está sendo cúmplice de todo o processo.

Tem gente que tem esperança que candidatos corruptos ou analfabetos um dia deixarão de ser. Tornar-se-ão honestos ou profundos conhecedores das leis que regem esse país. A única certeza que tenho é que se eles agora são os candidatos errados, que não merecem o meu voto, no futuro também serão.

Sou pessimista? Não! Sou realista, infelizmente. O otimismo que o governo passa nessas propagandas pré-eleitorais dizendo que nós decidimos o nosso futuro através do voto é uma das maneiras de jogar uma cortina de fumaça na realidade (um partido que foi eleito pelo povo e pior, reeleito, comandou o maior esquema de corrupção da história do país, o mensalão).

Às vezes me pego olhando fotos de propaganda política, principalmente as de comícios e das tais caminhadas da vitória. Olho porque encontro muitos conhecidos e ex-colegas de escola.

Pessoal que a disciplina favorita era a educação física, quando tinha futebol é claro, pois quando era outro esporte faltavam. Gente que o maior esforço na vida foi terminar o segundo grau. Quando conseguiram terminar em alguma escola que os aceitassem.

Os conhecidos papagaios de pirata na esperança da vitória do candidato para conseguirem um “troco massa” por algum tempo durante o mandato. Na prestação de contas de uma Schützenfest teve um até que “calçou” uma nota de 500 reais para 5 mil e simplesmente não deu em nada.

E tem gente que ainda se conforma com aquele papo de que o crime não compensa. Não me venham com inferno, juízo final ou que aqui se faz aqui se paga, porque eu simplesmente não consigo acreditar em nada que seja metafísico. Só nos fatos! Sou um não-teísta convicto!

O que dizer do coeficiente eleitoral, o número que quase ninguém sabe explicar, que muda em todas as eleições e simplesmente não garante que o candidato mais votado seja eleito. Belo exemplo de democracia.

Quando o Tiririca foi eleito deputado federal mais dois candidatos do PR (partido do Tiririca) com votações pífias foram eleitos graças ao coeficiente eleitoral.

E o voto limpo? Como votar limpo se a maioria dos candidatos são fichas sujas?

Gostaria de compartilhar a opinião de Ives Gandra Martins:

“Sou parlamentarista desde os bancos acadêmicos, e sempre vi no parlamentarismo um sistema de "responsabilidade a prazo incerto": eleito um irresponsável para a chefia do governo, ele pode ser afastado, sem traumas, tirando-lhe o Parlamento o voto de confiança.

Já o presidencialismo é um regime de "irresponsabilidade a prazo certo", pois, eleito um irresponsável, ele só pode ser afastado pelo traumático processo de impeachment”.

Para mim eleições era a oportunidade certa para os eleitores escolherem como prioridade as áreas para receberem foco nos próximos 4 anos. Eleger prioridades e não candidatos.

Saúde pública, segurança, esporte, cultura, mobilidade urbana, agricultura e por aí vai. Saber da população qual dessas áreas merece atenção e não qual família vai ficar mais 4 anos brincando com dinheiro público e arranjando cargos para toda a coligação.

Depois disso seria escolhido uma equipe de profissionais capaz de planejar e realizar o que foi decidido. Engenheiros, administradores, advogados, empresários, profissionais selecionados pelo currículo e pela experiência na área. Algo comum em qualquer empresa séria.

E como todo o projeto tem começo e fim, ao final esses profissionais estariam novamente a disposição no mercado de trabalho como acontece nos verdadeiros projetos. E não fazendo campanha para continuarem procurando serviço em alguma secretaria municipal.

Sem a necessidade de eleger médicos, corretores imobiliários, psicólogas recalcadas ou bacharéis em direito formados em curso a distância.

Em política basicamente existem dois tipos de coligações: as feitas para vencerem eleições e as feitas para governar. A segunda está em extinção. Só um lembrete: os últimos vice-prefeitos da cidade assumiram e alguns meses depois deram um jeito de deixar o cargo e continuarem recebendo o salário. Será que existe exemplo mais claro do que esse de coligação feita para vencer eleições?

E o candidato a vereador que foi eleito na eleição passada e optou por assumir uma autarquia? Porque agora ele quer ser vereador? Pior que tem gente que vai votar nele novamente.

É esse tipo de coisa que a “votocracia” permite, um descompromisso total com a administração pública eleita pelo próprio povo, que está mais preocupado com o final da “Carminha” do que com o que vai comer amanhã ...

A ignorância democrática tem um passado fantástico e um futuro deslumbrante!