No final da década de 90 Jaraguá
do Sul estava no auge das suas bandas marciais. Fanfarras também, e alguns
talvez vão facilmente deduzir esse tipo de corporação musical pelo termo bandas
escolares.
Colégio Marista São Luís, Colégio
Divina Providência (atual Bom Jesus), Instituto Educacional Jangada, Banda
Musical do Sesi, Fanfarra do Alberto Bauer, Fanfarra do Albano Kanzler,
Fanfarra da EMEF Jonas Alves de Souza, Banda Musical do Colégio Evangélico e a
Banda Municipal de Jaraguá do Sul. Ao menos de momento são delas que me lembro.
Havia uma rivalidade entre elas, principalmente
as de escolas particulares. Inclusive até de componentes chegarem às vias de
fato por motivos de provocação. Tipo o que acontece hoje em dia com as torcidas
de futebol.
Tínhamos aproximadamente 300
jovens envolvidos com atividades musicais (ensaios, aulas, concursos, corpo
coreográfico e viagens). Em 1996 ocorreu um auto de Natal com as bandas do
Marista, do Colégio Divina Providência e a Banda do Sesi dentro da Igreja
Matriz São Sebastião.
Tipo o que o FEMUSC faz no seu
encerramento, coloca um monte de gente tocando junto.
As bandas de escolas particulares
simplesmente aos poucos foram desativadas por motivo de redução de gastos. Primeiro
foi a do Marista, depois a do Divina e por último a do Jangada.
As municipais estão com os poucos
instrumentos que restaram abandonados em algum canto da escola esperando pelo
dia 25 de julho e 07 de setembro.
Banda do Sesi, pode-se dizer que
hoje é a Banda da SCAR (Cia. Musical Euterpe). A Fanfarra do Jonas Alves de
Souza se tornou Associação Musical e depende de projetos para a sua manutenção.
A Banda Municipal de Jaraguá do
Sul foi para a EMEF Luiz Gonzaga Ayroso, lá no Jaraguá 84, próximo ao presídio.
A título de curiosidade essa
banda municipal foi criada no ano de 1994, coincidentemente na época em que a
atual prefeita era a primeira-dama do município e secretária do bem-estar
social.
Funcionava onde é hoje a Biblioteca
municipal, lá ficavam guardados os instrumentos, bem diferentes dos
instrumentos que estão disponíveis hoje no Jaraguá 84. Muitos instrumentos
sumiram, não havia controle, o professor foi dispensado, não havia continuidade
do trabalho, o lugar de ensaio estava abandonado. A banda se tornou um abacaxi.
Muitos alunos migraram para as
bandas de colégios particulares, inclusive alguns chegaram a ganhar bolsas de
estudo para participarem da banda (algo comum nos Estados Unidos e em outros
países).
A banda do Sesi era a única
corporação que havia participado de todas as edições do Concurso Estadual,
sendo inúmeras vezes campeã. A do Marista venceu o mesmo concurso por 3 vezes
consecutivas (96, 97 e 98), conquistas das quais participei de todas.
A banda do Sesi chegou a tocar no
Chile, a do Marista em Itaquaquecetuba-SP, assim como a do Divina
Providência, que foi para Taubaté-SP e
Brasília-DF. O trabalho tinha um respaldo nacional. Jaraguá existia no mundo
das bandas marciais.
E hoje, o que temos? Três bandas,
a da SCAR (Cia. Musical Euterpe), a Associação Musical Jonas Alves de Souza e a
Banda Municipal de Jaraguá do Sul. O número de componentes das 3 bandas não
chega a 50 (nem ¼ do que havia na década de 90).
A cultura de bandas escolares na
cidade chegou ao ápice e ao fundo do poço em menos de 20 anos.
Alguns componentes dessas bandas
optaram por estudar música, fazer um curso superior e seguir na profissão, até
porque na época era um mercado promissor. Ainda é se olhado por profissionais
não só da cultura e também da educação.
Hoje temos a música como
disciplina obrigatória no currículo das escolas, mas e as bandas? Onde os
alunos vão poder aplicar o conhecimento das aulas teóricas?
Será que um aluno do centro vai
se deslocar até o Jaraguá 84 para participar da banda municipal? Vamos adotar a
percussão corporal como única alternativa? Ou vamos ensinar as crianças a
construírem seus próprios instrumentos com lixo reciclável?
É uma ideia interessante, mas
temos que encarar essa questão de transformar lixo reciclável em instrumento
musical como um meio e não um fim. Afinal de contas nenhuma pai ou mãe cria
filho para ficar brincando com lixo.
Infelizmente ninguém envolvido na
administração pública foi visionário o suficiente para pensar que um dia a
música voltaria a ser matéria de escola. E pensar que Villa-Lobos uma vez foi
responsável por isso e o seu projeto praticamente morreu junto com ele.
Não é preciso ir muito longe de
Jaraguá para encontrarmos exemplos que estão bem encaminhados: Schroeder,
Guaramirim e Massaranduba tem banda municipal.
Falo porque conheço o pessoal que
está a frente, e todos estão devidamente empregados com carteira assinada e
espaço e instrumentos dignos para oferecer as atividades musicais pertinentes
de uma banda marcial.
Destaca-se que cada família de
instrumentos tem o seu professor e não um professor para todas as famílias de
instrumentos.
E Jaraguá? Certamente ano que vem
vai mudar de prefeito, será que o projeto Cultura nos Bairros vai continuar?
Teremos banda municipal no ano que vem? Será que o próximo presidente da
Fundação Cultural vai saber o que é uma banda marcial?