segunda-feira, 9 de abril de 2012

Bandas marciais em Jaraguá do Sul


No final da década de 90 Jaraguá do Sul estava no auge das suas bandas marciais. Fanfarras também, e alguns talvez vão facilmente deduzir esse tipo de corporação musical pelo termo bandas escolares.

Colégio Marista São Luís, Colégio Divina Providência (atual Bom Jesus), Instituto Educacional Jangada, Banda Musical do Sesi, Fanfarra do Alberto Bauer, Fanfarra do Albano Kanzler, Fanfarra da EMEF Jonas Alves de Souza, Banda Musical do Colégio Evangélico e a Banda Municipal de Jaraguá do Sul. Ao menos de momento são delas que me lembro.

Havia uma rivalidade entre elas, principalmente as de escolas particulares. Inclusive até de componentes chegarem às vias de fato por motivos de provocação. Tipo o que acontece hoje em dia com as torcidas de futebol.

Tínhamos aproximadamente 300 jovens envolvidos com atividades musicais (ensaios, aulas, concursos, corpo coreográfico e viagens). Em 1996 ocorreu um auto de Natal com as bandas do Marista, do Colégio Divina Providência e a Banda do Sesi dentro da Igreja Matriz São Sebastião.

Tipo o que o FEMUSC faz no seu encerramento, coloca um monte de gente tocando junto.

As bandas de escolas particulares simplesmente aos poucos foram desativadas por motivo de redução de gastos. Primeiro foi a do Marista, depois a do Divina e por último a do Jangada.

As municipais estão com os poucos instrumentos que restaram abandonados em algum canto da escola esperando pelo dia 25 de julho e 07 de setembro.

Banda do Sesi, pode-se dizer que hoje é a Banda da SCAR (Cia. Musical Euterpe). A Fanfarra do Jonas Alves de Souza se tornou Associação Musical e depende de projetos para a sua manutenção.

A Banda Municipal de Jaraguá do Sul foi para a EMEF Luiz Gonzaga Ayroso, lá no Jaraguá 84, próximo ao presídio.

A título de curiosidade essa banda municipal foi criada no ano de 1994, coincidentemente na época em que a atual prefeita era a primeira-dama do município e secretária do bem-estar social.

Funcionava onde é hoje a Biblioteca municipal, lá ficavam guardados os instrumentos, bem diferentes dos instrumentos que estão disponíveis hoje no Jaraguá 84. Muitos instrumentos sumiram, não havia controle, o professor foi dispensado, não havia continuidade do trabalho, o lugar de ensaio estava abandonado. A banda se tornou um abacaxi.

Muitos alunos migraram para as bandas de colégios particulares, inclusive alguns chegaram a ganhar bolsas de estudo para participarem da banda (algo comum nos Estados Unidos e em outros países).

A banda do Sesi era a única corporação que havia participado de todas as edições do Concurso Estadual, sendo inúmeras vezes campeã. A do Marista venceu o mesmo concurso por 3 vezes consecutivas (96, 97 e 98), conquistas das quais participei de todas.

A banda do Sesi chegou a tocar no Chile, a do Marista em Itaquaquecetuba-SP, assim como a do Divina Providência,  que foi para Taubaté-SP e Brasília-DF. O trabalho tinha um respaldo nacional. Jaraguá existia no mundo das bandas marciais.

E hoje, o que temos? Três bandas, a da SCAR (Cia. Musical Euterpe), a Associação Musical Jonas Alves de Souza e a Banda Municipal de Jaraguá do Sul. O número de componentes das 3 bandas não chega a 50 (nem ¼ do que havia na década de 90).

A cultura de bandas escolares na cidade chegou ao ápice e ao fundo do poço em menos de 20 anos.

Alguns componentes dessas bandas optaram por estudar música, fazer um curso superior e seguir na profissão, até porque na época era um mercado promissor. Ainda é se olhado por profissionais não só da cultura e também da educação.

Hoje temos a música como disciplina obrigatória no currículo das escolas, mas e as bandas? Onde os alunos vão poder aplicar o conhecimento das aulas teóricas?

Será que um aluno do centro vai se deslocar até o Jaraguá 84 para participar da banda municipal? Vamos adotar a percussão corporal como única alternativa? Ou vamos ensinar as crianças a construírem seus próprios instrumentos com lixo reciclável?

É uma ideia interessante, mas temos que encarar essa questão de transformar lixo reciclável em instrumento musical como um meio e não um fim. Afinal de contas nenhuma pai ou mãe cria filho para ficar brincando com lixo.

Infelizmente ninguém envolvido na administração pública foi visionário o suficiente para pensar que um dia a música voltaria a ser matéria de escola. E pensar que Villa-Lobos uma vez foi responsável por isso e o seu projeto praticamente morreu junto com ele.

Não é preciso ir muito longe de Jaraguá para encontrarmos exemplos que estão bem encaminhados: Schroeder, Guaramirim e Massaranduba tem banda municipal.

Falo porque conheço o pessoal que está a frente, e todos estão devidamente empregados com carteira assinada e espaço e instrumentos dignos para oferecer as atividades musicais pertinentes de uma banda marcial.

Destaca-se que cada família de instrumentos tem o seu professor e não um professor para todas as famílias de instrumentos.

E Jaraguá? Certamente ano que vem vai mudar de prefeito, será que o projeto Cultura nos Bairros vai continuar? Teremos banda municipal no ano que vem? Será que o próximo presidente da Fundação Cultural vai saber o que é uma banda marcial?