O dinheiro aplicado no projeto cultural deixou de sê-lo em outra parte. Deixou de saciar a voracidade da máquina do estado e a ganância capitalista. Deixou também, e isso é inevitável, de ser aplicado em alimentação, em saúde, em outros segmentos prioritários. De forma que são injustificáveis melindres em se comercializar, em se obter dinheiro, desde que legalmente, para o projeto e com o projeto. Ou bem o projeto cultural vale o que custa socialmente e, neste caso, de uma forma ou de outra, a sociedade pagará por ele, ou, então, nada o justificará.
Os projetos existem
porque existe o risco, o desconhecimento do futuro. Se assim não fosse, seriam
absolutamente desnecessários. Os projetos nada mais são do que uma tentativa de
superar essa incerteza. Quanto melhor se definir o projeto, a duração e os
recursos do projeto, menor será o risco envolvido.
A nenhum administrador,
a nenhum burocrata pode-se pedir que esteja apto a fazer um julgamento do valor
do escopo de um projeto cultural. Essa avaliação é própria do campo da política
cultural (se e quando há uma política cultural). O que o setor cultural tem de
peculiar é que seus benefícios são incomensuráveis, no bom e no mau sentido.
Não se sabe, não se pode saber o valor de um achado arqueológico, de uma
técnica de artesanato documentada, de uma forma de pensar e de ser, nova ou
exótica, trazida ao nosso conhecimento. Mesmo porque podem não significar nada,
podem não ter a menor importância.
A incidência de
instituições sem base real de operações e de pessoas intelectualmente
brilhantes mas sem a mínima condição gerencial é particularmente notável no
campo da administração da cultura. Mais do que o dinheiro a fundo perdido, o
que afasta os financiadores, os investidores em cultura, é o disparate, o
descompromisso com resultados, com qualquer resultado.
Quem
investe em cultura, seja uma empresa, um particular, o Estado ou uma
associação, costuma (e com todo o direito) querer ter conhecimento sobre em que
e em quem está investindo. O Estado, sujeito que é a pressões políticas,
ideológicas e à dissolução de responsabilidades, foi – tem sido – o grande
incentivador do voluntarismo desorientado em administração cultural.
Extraído do livro: Projetos Culturais – Técnicas de modelagem (Hermano Roberto Thiry-Cherques).
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